quarta-feira, agosto 02, 2006

 

Pequeno diálogo numa ostreira

- Então, minha cara, não está lá com muito bom ar... Tem cá uma cara esta manhã. Está toda cinzenta!

- É verdade, não estou lá muito bem. Tenho uma dor, pesada e circular, no meu estômago.

- Ah! Não se aproxime de mim. A minha concha é tão uniforme, tão firme e a minha carne é tão apetitosa que não posso sofrer o contacto de uma ostra menos bela que eu. Já não lhe falo mais, minha senhora!

- Então, não me vai ajudar? Vai deixar-me à mercê dos caranguejos e do esquecimento? Estarei condenada a morrer sozinha nesta ostreira, com a barriga cheia de dores?

- Temo que sim, minha cara... Olhe! Está a ver! A mão do ostricultor avança à superfície. Tenho a certeza de que veio por minha causa, sou tão bonita!

Mas a mão do ostricultor apenas passou por cima da pequena pretensiosa para se apoderar directamente da ostra doente.

Ao fim de um quarto de hora, a mão voltou, transportando a ostra doente com uma infinita delicadeza. Voltou a colocá-la cuidadosamente no seu lugar.

- Pffff! Está a ver! Eu bem lhe disse que não era suficientemente bela para ele!

- É possível. Mas ele foi suficientemente bondoso para me aliviar. Já não tenho dores e ele parece tão contente: dei-lhe uma pérola tão bela que ficou a olhar para ela com um olhar de amor.

"Temos de sofrer para sermos belos". Conhecemos bem esta frase. No entanto, aplicamo-la demasiadas vezes à nossa aparência exterior esquecendo que ela é pertinente para tudo o que é interior: o nosso sofrimento nunca é gratuito,
também faz nascer belos frutos, dons, capacidades das quais nem sequer suspeitávamos.

Thérèse e Vérane
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"Há duas coisas das mais comoventes na vida: a fealdade que se sabe, e a beleza que se ignora".
Óscar Wilde





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