quinta-feira, abril 20, 2006

 

Quando tudo for Pedra...

Quando tudo for pedra, atira a primeira flor;

Quando tudo parecer caminhar errado, sê tu a tentar o primeiro passo certo;

Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto, acende tu a primeira luz, traz para a escuridão, tu primeiro, a pequena lâmpada;

Quando todos estiverem chorando, tenta tu o primeiro sorriso; talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que compreenda, de braços que confortem;

Se a vida inteira for um imenso não, não pares tu na busca do primeiro sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;

Quando ninguém souber coisa alguma, e tu souberes um pouquinho, sê o primeiro a ensinar, começando por aprender tu mesmo, corrigindo-te a si mesmo;
Quando alguém estiver angustiado à procura, consulta bem o que se passa, talvez seja em busca de ti mesmo que o teu amigo esteja; Daí, portanto, o tu deves ser o primeiro a aparecer, o primeiro a mostrar-te, o primeiro que pode ser o único e, mais sério ainda, talvez o último;

Quando a terra estiver seca, que a tua mão seja a primeira a regá-la; Quando a flor se sufocar na urze e no espinho, que a tua mão seja a primeira a separar o joio, a arrancar a praga, a afagar a pétala, a acariciar a flor;

Se a porta estiver fechada, de ti venha a primeira chave;
Se o vento sopra frio, que o calor de tua lareira seja a primeira protecção e o primeiro abrigo.

Se o pão for apenas massa e não estiver cozido, sê tu o primeiro forno para transformá-lo em alimento.

Não atires a primeira pedra em quem erra; de acusadores o mundo está cheio; Por outro lado, não aplaudas o erro; dentro em pouco, a ovação seria ensurdecedora;

Oferece a tua mão primeiro para levantar quem caiu; a tua atenção primeiro para aquele que foi esquecido; sê tu o primeiro para aquele que não tem ninguém;

Quando tudo for espinho, atira a primeira flor; sê o primeiro a mostrar que há caminho de volta, compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica, que o auxílio possibilita, que o entendimento reconstrói.

Atira tu, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?